domingo, 20 de dezembro de 2009

TODO DIA É DIA

"Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo(...)É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre." (C.Drummond de Andrade) - Imagem: Google Imagens





FELIZ ANO TODO DIA NOVO!!!
Por Veruska Queiroz



É tempo de falar de resoluções de Ano Novo, não é mesmo?
E o que é ou representa o Ano Novo? Bom, Ano Novo para alguns pode simplesmente ser a passagem de um dia para o outro no calendário. Ok. Como cada pessoa tem, subjetivamente, várias representações de e sobre si mesmo e sobre o mundo, justíssimo esse pensamento. Para outros, no entanto, mesmo que na prática o Ano Novo seja efetivamente somente a passagem de um dia para outro no calendário, ainda assim, há outras tantas representações que tornam essa passagem especial. No imaginário de muitas dessas pessoas perpassa a idéia de que, ao mudar o ano, muitas coisas podem também ser mudadas em perspectiva externa e, principalmente interna. É a hora em que muitas pessoas acreditam que podem tomar um novo fôlego para, senão mudar parcial ou totalmente suas vidas, pelo menos se imbuir de novo ânimo, de mais coragem para continuar seus caminhos ou tentar caminhos novos, se for o caso.

Não farei aqui nenhum discurso ideológico sobre o Ano Novo, isso seria, no mínimo ingênuo. Minha intenção é de apenas tentar considerar as várias perspectivas existentes, suscitar considerações com as quais algumas pessoas talvez nunca tiveram contato e, para meu deleite, me deparar, certamente – o que acho sempre maravilhoso – com outras que jamais supus, porque tudo na vida que imaginarmos pode nos levar a milhares de questões que jamais pensamos e isso significa precisamente – e eu adoro isso também – expansão e evolução; o que gosto muito, porque penso ser justamente aí, a possibilidade de novas visões, de novos insigths, fortalecimento ou mudança de antigos padrões e, consequentemente, crescimento. Voilà!
Bom, mas o que realmente muda com o Ano Novo? E, se muda, onde isso nos leva? Talvez a lugar nenhum e talvez a muitos lugares. Penso que, seja o que for, decididamente, as respostas para essas perguntas e muitas outras só encontrarão voz, eco e significado dentro de cada um. É somente por dentro, de acordo com as próprias experiências, anseios de mudança ou não e expectativas que cada um pode articular e confrontar suas questões, desejos, certezas, dúvidas, suas considerações e perspectivas com milhões de questões que o mundo apresenta e decidir o que fazer com essa imensa salada.

Dito isso, fico imaginando agora que muitas pessoas a essa altura acharão que esse texto não parece passar de um “Manual de como começar seu Ano Novo” ou coisa parecida e descartarão de vez a leitura, usando como justificativa – muitas vezes justa – o fato de que, na verdade, nada muda de um ano para o outro e que esse assunto de “resoluções de fim de ano” é para os sonhadores e românticos. Ainda que eu respeite profundamente e possa achar legitímo, embora triste, que algumas pessoas pensem assim, o fato é que, tirando o lado que parece pouco realista dessa coisa toda de fim de ano, mas ao mesmo tempo, dando-lhe os créditos merecidos, precisamos mesmo, de tempos em tempos, seja em que época for, fazer nossas reavaliações e mudanças. Precisamos fazer um balanço geral da nossa vida de vez em quando: ver quais idéias, sentimentos, conceitos, paradigmas sustentam nossas concepções, filosofias de vida e ações e se elas ainda estão valendo, se ainda estão em sintonia com nós mesmos – sim, porque nós não somos os mesmos durante toda uma vida – e com o mundo que nos cerca ou precisam ser reciclados ou até mesmo mudados. Precisamos ver se aquela velha roupa ainda nos serve, se precisa apenas de umas pequenas reformas ou se precisamos de uma peça nova. Precisamos saber se nossas certezas e dúvidas, acertos e erros, sentimentos, pensamentos e ações de outrora continuam encontrando ressonância com a passagem do tempo que se dá para todos nós e para tudo o que existe. Caso contrário, paramos de crescer e evoluir, nossa inteligência e nossa percepção ficam prejudicadas e ficamos velhos(por dentro e por fora), chatos, deselegantes, cansativos e indesejáveis. Precisamos mesmo, de tempos em tempos, checar se “nossos estoques” estão precisando de reposições, se a poeira precisa ser varrida, se a “nossa casa” está precisando de um pouco de ventilação e sol ou até mesmo de uma mudança mais radical e efetiva. Mudanças são inerentes na vida de todos nós: mudamos de tamanho e de idade. Mudamos de série no colégio, de período na faculdade e de responsabilidades na vida madura. Mudamos de casas, de cidades, de trabalhos e às vezes até de amigos. Mudamos a forma de vestir, de falar e de nos posicionarmos. Mudamos nossas idéias, conceitos, perspectivas, nossos discursos, nossas atitudes e nossa forma de ver e lidar com o outro e com o mundo. Mudamos até de pele e de células. Isso é renovação. Isso é evolução. Isso é vida. Metaforicamente falando, todas essas coisas são como pequenos “Anos Novos” que vão acontecendo todos os dias, todos os meses e todos os anos em nossas vidas, durante nossa vida inteira. Então, mesmo que não seja numa data pré-estabelecida, todos nós precisamos sim fazer essas pausas para reavaliações, reformulações e mudanças de tempos em tempos.

E o que isso precisamente significa? Significa que não importa muito quando, como e quais reavaliações e resoluções serão colocadas em prática. O que importa é a atitude de mudança e renovação. Atitude de vivenciarmos esses pequenos "Anos Novos" em nossa vida. Em relação a nós mesmos, aos outros e a tudo o que nos cerca. Atitude de estarmos em constante reformulação e recriação, de não pararmos, de não nos acomodarmos e de não deixarmos que “nossos estoques” acabem, não deixarmos que “nossa casa” vire um mausoléu escuro e triste cheio de poeira e mofo, que nossa vida vire apenas um retrato bonito em cima do móvel da sala, sem movimento, sem mudança, sem graça e sem vida. O caminhar, às vezes é lento e muitas vezes, difícil e cansativo e cada um de nós terá seu próprio tempo e seu ritmo. Mas se pararmos é quase certo que teremos de lidar com o pior fracasso que nossa alma pode experimentar: a constatação de não sermos um indivíduo em sua plenitude porque não conseguimos sequer fazer talvez a única coisa que depende somente de nós mesmos; a possibilidade de nos vermos interna e emocionalmente fracos e fracassados - o fracasso da própria alma que sucumbiu ao medo, às dúvidas, à covardia e à inércia. Se assim for, mesmo que tenhamos o mundo aos nossos pés em outras esferas, seremos o pior e mais indigno dos derrotados. Mesmo um pequeno progresso é um avanço na direção de alguma mudança e do crescimento. Pequenos riachos se transformam em rios poderosos, mesmo que sua trajetória possa parecer estreita, longa e, aparentemente, sem muita importância. È preciso que continuemos em frente, nos propondo e nos permitindo fazer nossos pequenos “Anos Novos” ao longo de nossa existência.

É bem mais difícil começar de novo se paramos completamente. Então, não desperdicemos as valiosas chances que a vida nos apresenta todos os dias, em vários setores de nossas vidas. Sempre existirá algo que pode ser feito agora mesmo, ainda hoje e, na maioria das vezes, os primeiros passos pelo menos, dependem somente de nós. Pode não ser muito, mas fará com que continuemos no jogo. Corramos, portanto. Daqui a pouco ou amanhã pode ser tarde demais. Façamos com verdadeira vontade e ardor a parte que nos cabe. É somente assim que a vida pode verdadeiramente caminhar, ou seja, cada um precisa, necessariamente, fazer a parte que lhe cabe. Não existe unilateralidade nas relações humanas maduras e saudáveis, em qualquer questão que se possa pensar. Não deixemos que nosso medo ou nossa neurose nos impeça o movimento. Não deixemos que a poeira, a sujeira e o mofo tomem conta de nosso interior, de nosso coração e de tudo o que é verdadeiramente importante para nós. Não permitamos que escaras fétidas se espalhem por nosso corpo e nossa alma pela nossa inércia, por nossas dúvidas ou nossa falta de coragem. Corramos ao ritmo de nosso próprio tempo, mas corramos... E, se por um acaso, não conseguirmos correr, marchemos. Se não conseguirmos marchar, andemos o quanto rápido pudermos. Se não pudermos ir rápido, caminhemos lentamente. Se não conseguirmos caminhar, usemos uma bengala. Mas seja o que e como for, que o Ano Novo de cada um de nós, coincidindo ou não com o Ano Novo do calendário, possa acontecer consistentemente, renovando nossas esperanças, nossas visões, nossos desejos e promovendo nossas reavaliações e realizações no sentido do nosso constante aprimoramento e crescimento. Feliz renovação e feliz recomeço a todos!!! E um super, maravilhoso e feliz Ano Novo!!!