segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

AINDA AMOR...


“...E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra metade também.” (Oswaldo Montenegro) - Imagem: Getty Images




MULHERES

Por C.


Há tempos venho observando as mulheres e, em anos de especulações e sondagens com meus botões só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São magas, bruxas, fadas... São espiãs. Espiãs de Deus, anjos disfarçadas entre nós. Pare para refletir sobre o sexto-sentido. Alguém duvida de que ele exista?

E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você? E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece? O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!

O sexto-sentido não faz sentido! É a comunicação direta com Deus! Assim é muito fácil... As mulheres são mães! E preparam, literalmente, gente dentro de si. Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal? E não satisfeitas em gerar vida, elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"... Tudo isso é meio mágico...

As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravasam? Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade e ao mesmo tempo de força incomum, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens... É choro feminino. É choro de mulher...

Já viram como as mulheres conversam com os olhos? Elas conseguem pedir uma a outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos... Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens! E é com um desses milhões de olhares que algumas delas, especiais e dotadas de algo mais que não se explica, enfeitiçam os homens. En-fei-ti-çam!

E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas? Para estudar os homens, é claro - embora haja algumas que erram o caminho e estudem Exatas ou Saúde - e essas devem ocupar ainda uma categoria de anjos em evoluçâo ou anjos que caíram de seu posto, vai saber. Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro". Quer evidência maior do que essa?

É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria mulher de uma maneira geral e com a própria vida. Pena que a maioria nunca vê, verdadeiramente com os olhos da alma, as mulheres-anjos que aparecem em suas vidas e os arrebatam de forma nunca antes vivida ou sequer conhecida (e, o que é pior, vendo, não conseguem dar-lhes o valor devido, porque faltam-lhes a inteligência, a sensibilidade, a percepção refinada e talvez até mesmo segurança em si mesmos e maturidade)

Com todo esse amor de mãe, profissional, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo. São fortes, são uma fortaleza. Mas elas são anjos depois do sexo-amor. É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos. E levitam.

Algumas até voam. Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz sonhar nessa hora. E aqui falo somente do verdadeiro homem com H maiúsculo, como dizem... aquele que não precisa mostrar sua força, seu poder ou seu orgulho de macho em nenhuma circunstância... aquele que cresceu para além dos limites pueris, que já superou as mazelas de uma infância sempre cheia de sentimentos confusos, como nos lembra Freud, em quase toda a extensão de sua obra, que já passou da fase do amor infantil e cheio de joguinhos de força e manipulação, cheio de disputa por poder, cheio de impedimentos travados e encenados em si mesmos e, principalmente já aprendeu a SER e a AMAR como adulto, a entender a vida como adulto, a olhar para si mesmo e para o outro como adulto, aprendendo a conviver com as ambivalências e com todos os sentimentos próprios a todo ser humano, entendendo que ser é vir a ser, com todas as coisas belas e felizes e com aquelas menos nobres e mais sombrias - você teria a prepotência, a audácia e a arrogância de atirar a primeira pedra? - mas num movimento permanente de crescimento, entendimento e amadurecimento.

...E que cada um tenha CORAGEM para fazer seus sinceros exames de consciência... Como será que estaria seu caderninho de atitudes nesse âmbito e no âmbito do aprendizado do amor e da vida se A Vida ou Deus (cada um que dê o nome que desejar) lhe pedisse para prestar contas nesse exato momento?

P.S.: Esse texto foi um presente de um amigo lindo e especial. Como acredito que não existem datas específicas para se falar sobre coisas belas ou para se homenagear alguém, a você, meu amigo querido, muito obrigada pela sua companhia, por estar sempre presente mesmo ausente, por sua sensibilidade, por sua percepção além dos sentidos e sempre tão sensata. Por suas conversas inteligentíssimas tal qual você o é sempre e com tanta delicadeza que parece até pedir licença para sê-lo. Por suas palavras sempre atentas e embuídas por um incentivo constante. Por sua firmeza sempre amável, por sua docilidade e extremo carinho ao pontuar meus tropeços e falhas, por seus sorrisos sempre tão carregados de afeto e orgulho nos meus sucessos. Por todo o cuidado, atenção, carinho, amor, amizade, poesias, vinhos, saberes, sabores, sonhos, sorrisos e por ser sempre alguém que me faz lembrar que a vida é aprendizagem a todo momento e que viver é maravilhoso!!! Como diz O. Wilde: “Tenho amigos para saber quem sou...”

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

POR TANTO AMOR...


"...E sem nenhuma lembrança/ Das outras vezes perdidas /Atiro a rosa do sonho/ Nas tuas mãos distraídas..." (Mário Quintana) - Imagem: Google Imagens




QUERO SABER

Por Veruska Queiroz


Não me importa o que você faz para viver. Quero saber se você tem coragem de encontrar o que seu coração anseia e competência para bancar isso.
Não me importa saber sua idade e o patrimônio que você conquistou. Quero saber se você se arriscaria parecer um louco por amor, pelo pulsar verdadeiro de sua alma e pelos seus sonhos.
Não me importa saber quais astros estavam no céu quando você nasceu. Quero saber se você tocou o âmago de sua alegria ou tristeza ou de suas imperfeições, se os tropeços da vida, seus e dos outros lhe ensinaram e se você os superou sem culpar ou julgar a si mesmo e ao outro, ou se nada fez por medo, por fragilidade ou por covardia;

Quero saber se você consegue sentar-se com as dores, minhas ou suas, sem se mexer para escondê-las, diluí-las ou fixá-las. E mais, se consegue ser mais forte do que elas, enfrentando-as e transformando-as em amadurecimento.
Quero saber se você pode conviver com a alegria, minha ou sua, se pode dançar com selvajaria e deixar o êxtase preenchê-lo até o limite sem lembrar de suas limitações de ser humano, mas não por arrogância ou prepotência, pois aí o valor da dança e do ato se perderiam, mas por vontade pura da alma.
Quero saber se você pode enxergar a beleza mesmo que não sejam bonitos todos os dias, se consegue ceder, ouvir, mudar de opinião, de posição, de lugar, voltar a trás sem orgulho e sem se sentir menos ou menor por isso, muito pelo contrário;

Quero saber se você pode viver com as falhas, suas e minhas, e ainda estar de pé na beira do lago e gritar para o prateado da lua cheia.... "Sim"!
Quero saber se você pode ser emocionalmente forte, depois de vivências de pesar e desespero, exausto, e perdoar alguém por ter errado com você ou pedir perdão por ter errado com alguém, e mais forte ainda para recomeçar, reconstruir, refazer, renascer,
Não me importa saber como veio parar aqui. Quero saber se você estará sempre ao meu lado no centro do fogo sem recuar, sendo alguém para quem se possa entregar um coração ou uma alma, se preciso for;

Não me importa saber onde, o que, ou com quem você estudou, nem a quantidade de dinheiro que possa ter, muito menos se já viajou pelo mundo inteiro. Quero saber se você consegue, se você é forte o bastante para viajar por dentro de você, por dentro de mim e se sua alma e não o seu bolso possui riquezas. Quero saber o que sustenta o seu interior quando todo o resto desaba ou na hipótese de tudo se perder e a vida pedir que você se comprometa.
Quero saber se você pode estar só consigo mesmo, se consegue se encarar com honestidade e se verdadeiramente gosta da companhia que carrega em seus momentos vazios e se cumpre verdadeiramente com a missão que é de todos os seres que realmente podem ser considerados dignos de viver: a de ser de verdade e ser feliz.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

POR NÃO ESTAR DISTRAÍDA....

“Depois de todas as tempestades o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro" (Caio Fernando Abreu) - Imagem: Getty Images



Aprendi...
Por Veruska Queiroz

...Que o amor quando verdadeiro nunca acaba e se acaba não era amor e muito menos verdadeiro. Mas, ainda assim, vale sempre a pena amar.
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...Que grandes e verdadeiros amigos, aqueles que te abraçam num momento difícil e, principalmente, que ficam realmente felizes com suas vitórias e vibram sinceramente e verdadeiramente com seu sucesso nunca deixarão de ser amigos, não importa a distância, os adiamentos, as possíveis impossibilidades e o tempo.

...Que colegas de faculdade, trabalho ou profissão e conhecidos ocupam uma categoria de pessoas a quem devemos respeito, consideração e agradecimento em muitos casos, e que podem até se transformar em amigos, mas geralmente são apenas o que são. E não se deve lamentar por isso. Entender essa classificação natural da vida nos faz mais leves, mais livres e, acima de tudo é sinal incontestável de inteligência e maturidade.

...Que aqueles que se fazem nossos “inimigos” são, na maioria das vezes, apenas pessoas inimigas de si mesmas, que projetam no mundo e em determinadas pessoas suas frustrações, raivas e depreciações, mais comumente de si mesmas. Pessoas em constante processo de crescimento e evolução, com projetos, metas e sonhos e em construção de suas realizações pessoal, social e profissional não perdem tempo com essas pequenezas e mediocridades.

... Que inteligência, respeito, amor genuíno, elegância, sensibilidade, amor próprio, coragem, competência, generosidade e humildade são atributos de pessoas fortes, belas e verdadeiras. Algumas pessoas jamais chegarão perto de sequer saber o que tais preciosidades significam e talvez não seja por mal... É que elas simplesmente não aprenderam a se permitir: o que uma pessoa não tem, dificilmente conseguirá oferecer.

...Que o amor, sozinho, não tem a força que imaginei. O amor precisa de vontade e de coragem. É preciso ser forte para amar. O amor precisa de risos de si mesmo, de leveza, de conversa, de sonhos juntos, de cumplicidade, de respeito com o compromisso assumido consigo mesmo nesse mundo, de tolerância mútua, de trabalho crescente e mutante das partes que escolheram partilhar suas vidas, suas alegrias, suas dúvidas, seus medos, seus vazios, suas falhas, seus erros e acertos... Mas ainda assim é a força mais poderosa do mundo.

...Que ouvir aos outros é o melhor remédio e o pior veneno, depende da dose e do momento, mas assim mesmo é um excelente exercício de convivência e civilidade...

...Que aquele que não permite o erro, a reparação, o perdão consigo e com os outros provavelmente passará a vida inteira vivendo pela metade, com medo da entrega, com medo do outro, com medo de si mesmo, medo de saber realmente quem é, medo de saborear a vida com todos os seus gostos, medo de dar a cara a tapa e ter coragem para bancar o que der e vier. E aquele que vive pela metade porque não tem coragem de bater no peito e dizer a que veio, nunca conseguirá ser alguém por inteiro e nunca conseguirá ir a lugar nenhum de verdade.

...Que vou sempre me surpreender, seja comigo mesma ou com os outros, umas vezes de maneira positiva e outras nem tanto, mas isso não deve tirar minha esperança e minha fé nas pessoas e nem as diminuir, apenas podem transformá-las aos meus olhos e eu terei de escolher e decidir o que farei com isso.

... Que vou sempre mudar, que as pessoas irão sempre mudar e que mudanças fazem parte da vida, fazem parte de se estar vivo. Nada mais enfadonho e insosso do que aquilo ou aquele que não muda, não revê suas posições. Isso não é sinal de convicção de personalidade ou de idéia, mas sim de completa falta de inteligência - também podemos pensar aqui, embora isso possa render outro texto com outras reflexões, em insegurança, covardia e incompetência... cada um que aposte suas fichas...

... Que vou errar um milhão de vezes, comigo, com os outros e com as coisas dessa vida e vou acertar outro tanto de vezes, e que também outras pessoas irão fazer o mesmo. Natural - alguém aqui se canditada a lançar a primeira pedra? - E é preciso acreditar que nesse vai e vem de erros e acertos, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, ambivalências e diferenças é que estão as chances do crescimento e amadurecimento de todos os seres. Esse é o movimento da vida e o que a torna, exatamente por isso, maravilhosamente interessante, belíssima e deliciosa de ser vivida.




“Procure a mulher dentro do vestido: se não há mulher, não há vestido”.
(Coco Chanel) - Imagem: Getty Images




A Verdadeira Elegância
Por Veruska Queiroz


Existe uma coisa dificílima e que não há como ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento. É a elegância que nos acompanha sempre, da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas do nosso cotidiano, principalmente quando não há ninguém por perto e não estamos cumprindo nenhum ritual social. É uma elegância natural, sem afetação, sem obrigação. É uma elegância que vai muito além de se estar conectada com as últimas tendências da moda, saber se vestir adequadamente ou saber como servir um jantar à francesa, usar de modo correto todos os talheres ou ainda usar de modo absolutamente irrepreensível todas as regras de etiqueta social.

Elegância não é conceitual, é estrutural. É algo intrínseco, é de dentro para fora, ou se nasce elegante ou jamais se será. Daí vermos aquelas pessoas apinhadas de roupas de grifes e belíssimas jóias ou aquelas fazendo lipoaspirações, liffintngs e aplicando botox quase que mensalmente, mas que não “aparecem” de jeito nenhum, não se destacam e nada destaca nelas, não brilham, porque NÃO POSSUEM ELEGÂNCIA. A pessoa realmente elegante se destaca naturalmente porque seu brilho interno, seu magnetismo pessoal transcende e ela é notada de qualquer maneira, estando impecável fisicamente ou estando em uma situação do cotidiano, sem necessariamente nenhum “glamour” ou circunstâncias específicas. É possível detectar a elegância verdadeira em pessoas que possuem aquele brilho ímpar, inconfundível e incomparável que as fazem se destacar em qualquer lugar, a qualquer hora, por toda pessoa que cruza seu caminho. Essa elegância é natural e não pode ser comprada em shoppings, lojas e joalherias nem adquirida ao longo do tempo ou em viagens pelo mundo ou em livros de etiqueta.

Quem é mesmo elegante, é... e ponto. Podemos até não saber definir porque consideramos alguém elegante, mas a elegância está lá, as pessoas sabem, porque veem.

Elegante é sorrir, é estar de bem com a vida, é aprender, é se abrir para as mudanças.
Elegante é saber rir um pouco de si mesmo e da vida. Mais cedo ou mais tarde, todo mundo acabará sendo confrontado com o fato de que a vida é uma grande passagem e não deve ser levada tão a ferro e a fogo, sob o risco de se envelhecer antes do tempo, ficar chato, sem brilho, visivelmente infeliz e enferrujar as engrenagens da leveza e da felicidade. Elegante é quem compreende esse natural movimento da vida .
Elegante é respeitar o outro, buscando compreender as mazelas e as falhas do mesmo, se abrindo para novas perspectivas em todos os sentidos, tanto quanto gostaríamos de ser entendidos e respeitados em nossas mazelas e fraquezas.
Elegante é quem É FELIZ. E não estou falando dessa felicidade banalizada, vulgarizada pelo capitalismo e disseminada pelo discurso da vida aparentemente "perfeita" e politicamente correta medida pelos sorrisos largos, soltos e amarelos de quem possui isso ou aquilo. Não. Aqui a felicidade assume um componente mais refinado, ligado à inteligência profunda, à autenticidade da essência de cada um, à veracidade da vida em si. Porque felicidade é algo construído dentro de nós, tal qual a elegância. Ou se é feliz, por algo que se tem de instigante dentro de si, por algo que pulsa constantemente, por uma busca incessante, por uma luz que transcende ou nunca se será.
Elegante é a educação. Não somente a educação das palavras ditas no dia-a-dia, mas a educação que traz consigo o entendimento da própria dinâmica da vida. A educação irmã do bom senso, do respeito ao outro, da sensibilidade e da grandeza de espírito. Mais uma vez aqui, podemos definir e ver a educação verdadeira quando não temos de ser socialmente educados, quando não há ninguém a nos olhar e lançar juízo de valor sobre nosso comportamento. Quem é educado e por isso também elegante, é educado em todos os momentos da vida, até nos mais imprevisíveis, com todas as pessoas, em qualquer situação, até mesmo e principalmente quando tudo recomendaria não ser educado. E que possamos dormir com um barulho desses...
Elegante é saber escutar, saber o momento de escutar, saber o que deve ser escutado.
Elegante é saber o momento de falar, saber o que falar e, principalmente, com quem falar, pois há os que nunca terão ouvidos de ouvir, não importa o que seja dito.
Elegante é estar aberto a posturas diferentes, a pensamentos diferentes, a pontos de vistas diferentes. Elegante é a maturidade advinda desse processo de reconhecimento de que o mundo não gira em torno do umbigo de cada um, das cambaleantes percepções e falidas certezas nossas de todo dia. Aliás, maturidade essa que é outra prova incontestável de inteligência, inclusive.

E por falar nela... Inteligência é extremamente elegante. Não confundam aqui inteligência com intelectualidade ou cultura. Isso seria muito simplório e pouquíssimo inteligente, aliás. A maior ou menor intelectualidade, às vezes, independe da vontade do indivíduo. A cultura, penso eu, é da ordem da oportunidade, circusntância e capacidade de busca, aquisição e compreensão. Mas Inteligência... ah, essa Inteligência é algo muito além de cultura ou conhecimento - esses adquiríveis - e infinitamente superior a possuir um certo Q.I (isso ainda existe?) ou a ser mais perspicaz para isso ou aquilo outro. Essa Inteligência a que me refiro é da ordem, novamente aqui, do intrínseco, da alma, da sofisticação da pessoa, que também passa bem longe do conceito de riqueza material ou coisa do gênero, como algumas pobres almas poderiam supor. E é para poucos. É para quem é realmente elegante.

Elegante é quem aprende todos os dias com tudo.
Elegante é quem aprende a desaprender.
Elegante é quem aprende a aprender de novo.
Elegante é a coragem.
Elegante é o brilho nos olhos.
Elegante é a leveza da alma.
Elegante é a vida de verdade, complexa, cheia de mistérios, mas linda, porque de verdade.
Elegante é ser de verdade.
Elegante é SER.
E, se você não compreende e não assimila o profundo sentido do que é ser elegante,
...Creio que ELEGANTE é algo que você nunca foi, não é e nunca será, nem de fato e muito menos de direito.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O TEMPO...

"E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura... enquanto ela durar....” (Cora Coralina) - Imagem: Google Imagens




Vivemos de verdade a vida que temos?

Por Veruska Queiroz



Há alguns dias fui ver o filme, “O curioso caso de Benjamin Button”, de David Fincher. A princípio, pensei em começar esse texto dizendo que dependeria da sensibilidade do telespectador sair ou não mais ou menos tocado da sala de exibição após o filme, mas refletindo melhor, penso que, não há como sair o mesmo, ileso e alheio às reflexões de um filme como esse.


O filme de David Fincher foi baseado no conto homônimo do escritor americano F. Scott Fitzgerald (1896-1940), embora se vejam muitas diferenças entre eles, como por exemplo, no conto de Fitzgerald, Benjamin Button nasce com a aparência física, com os hábitos e os conhecimentos de um velho e morre como um bebê, no vazio, sem nenhuma memória ou experiência, o que não ocorre com o filme. Tanto o conto de Fitzgerald quanto o filme de Fincher parecem ter sido inspirados na famosa frase de Mark Twain (1835-1910): "A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18". Aqui cito também um fragmento de texto que já foi atribuído a Charles Chaplin, Woody Allen, George Carlin, Andy Rooney e George Constanza, mas especula-se - não tenho como dar garantias - que Sean Morey, um comediante americano tenha reivindicado sua autoria:

"Life Cycle" (não consta ano exato de publicação):


"I think the most unfair thing about life is the way it ends. I mean, life is tough. It takes up a lot of your time. What do you get at the end of it? A death! What's that, a bonus? I think the life cycle is all backwards. You should die first, get it out of the way. Then you live in an old age home. You get kicked out when you're too young, you get a gold watch, you go to work. You work for forty years until you're young enough to enjoy your retirement! You go to college, you do drugs, alcohol, you party, you have sex, you get ready for high school. You go to grade school, you become a kid, you play, you have no responsibilities, you become a little baby, you go back into the womb, you spend your last nine months floating.... You finish off as a gleam in somebody’s eye."


Tradução livre:
"Acho que a coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Quer dizer, a vida é dura. Ela ocupa muito do seu tempo. O que você ganha no final disso? A morte! O que é isso, um bônus? Eu acho que o ciclo da vida está de trás para frente. Você deveria morrer primeiro, se livrar logo disso. Então você vive em um lar de idosos. Você vai ser chutado para fora de lá por estar muito novo. Você tem um relógio de ouro, você vai para ao trabalho. Você trabalha por quarenta anos até ser novo o suficiente para gozar a aposentadoria! Você vai para a faculdade, você usa drogas, álcool, vai à festas, tem relações sexuais, você fica pronto para ao liceu. Você vai para a escola, torna-se um garoto, brinca, não tem responsabilidades. Você se torna um bebezinho, você volta para o útero, você gasta seus últimos nove meses flutuando... Você acaba como um brilho nos olhos de alguém."

OBS: Infelizmente Chaplin não está mais entre nós e no site dado como oficial deste grande artista - ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e músico -  não consta nada a respeito, nem semelhante. Depois de muito pesquisar em livros e biografias a respeito de Charles Chaplin, não encontrei este texto e nada análogo como sendo seu. Nem mesmo reconhece-se o estilo de escrita de Chapin nele, onde, no mundo midiático, o texto termina com a seguinte frase: "E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?" No início do século, até a década de 40 e 50 - quase finalizando suas criações, expressões expondo claramente a vida íntima e sexual das pessoas não eram usuais, nem mesmo em cinema ou livros, chegando até mesmo a serem censuradas e proibidas. Pessoalmente penso que um artista como Chaplin, tendo em vista todas as suas obras e escritos, jamais se utilizaria da frase em questão, dada a época e seus estilos de produzir e escrever. Fica a contribuição.



O conto de Scott Fitzgerald está disponibilizado na web: http://www.readbookonline.net/read/690/10628/

Bem, o filme de David Fincher, como a vida, é repleto de altos e baixos e questões contrastantes, mas certamente, cumpre a função, penso eu, que todo filme deve ter: fazer sonhar, expor a condição humana em sua totalidade paradoxal, refletir sobre a vida, contar boas histórias, fazer pensar. O filme faz tudo isso. É de todas essas nuances que surge a própria força do filme e também, penso eu, do Benjamin Button: se a condição do personagem é repleta de dificuldades e estranhezas, a vida e a própria condição humana também o são.
Tudo é surreal, até pela estranha situação do protagonista, mas, ao mesmo tempo, tudo é intimamente ligado ao cotidiano dos sentimentos de qualquer indivíduo, mesmo que não passando nem de longe por uma situação tão peculiar como a de Benjamin. De fato, não importa em que época a história se passa nem em que local: eis que crescimento, maturidade, idade cronológica, as experiências da vida e a intensidade do amar, como cada indivíduo lida com a passagem do tempo e o que faz de sua vida, a finitude e a vontade pueril de poder fazer a vida andar ao contrário se misturam, se confundem e se expõem totalmente atemporais de forma que não há como ninguém sair ileso da sala de exibição e das próprias vicissitudes da vida.


“O curioso caso de Benjamin Button” é, ao mesmo tempo, complexo, perturbador, delicado, leve; denso pela inquietude que provoca, visto que lida o tempo todo com a finitude de todos nós e o que faremos enquanto essa não chega; e frágil, pois nos transporta para a fantasia de envelhecer ficando jovem e, não obstante, as vantagens e desvantagens disso.
Ainda estou elaborando minhas impressões digamos “do fundo da alma” sobre o filme, visto que, após assistí-lo tive vontade de, por instantes, poder mergulhar mais profundamente no vai e vem da vida de um modo geral, com urgência, com sofreguidão, com sede e fome de um náufrago. Aliás, talvez essa seja a minha impressão mais profunda do filme: uma melhor e mais afinada contemplação da vida, para atravessá-la e vivê-la mais intensamente. Outros questionamentos: O que é tangível nesse corre-corre da vida? O que verdadeiramente importa? O que nos faz feliz? Como conseguimos lidar com perdas e passagem do tempo? O que fazemos efetivamente de importante para nossa felicidade e o que deixamos de lado por isso ou aquilo? Estamos prontos para perder o que amamos e o que importa realmente ou só quando perdemos notamos que amamos ou que era importante? Nesses últimos dias, essas tem sido uma constante para minhas reflexões.


Pensei em enveredar-me aqui por uma perspectiva psicanalítica mais teórica ou técnica, levantando dados do que seja essa contra cultura do envelhecimento na contemporaneidade ou o quão somos ou não capazes de lidar com esse mote da passagem do tempo e o quanto gostaríamos de deixar essa vida em condições que não são, necessariamente, a que conhecemos, uma vez que, postulado está que "nosso inconsciente, portanto, não crê em sua própria morte; comporta-se como se fosse imortal" (Freud, 1996[1915], vol. XIV), mas penso que seria perder justamente toda a essência da beleza do que quer transmitir o filme e prefiro continuar envolta a nuances mais leves dessa mesma perspectiva, a pensamentos sobre as relações que experimentamos ao longo da vida, confrontados com as vivências, com os ganhos e as perdas dessas relações e com a capacidade de sermos transformados ou não por elas.


"Não importa o que as circunstancias fazem do homem, mas o que ele faz do que fizeram dele” (J.Paul Sartre, 1946). Lembrei-me aqui do Contardo, talvez como material para outro texto, em um artigo “Você quer mesmo ser feliz?” com ponderações sobre o fato de que, nem sempre, algumas pessoas querem mesmo aquilo que desejam (Contardo Calligaris, 2008). Talvez, considerações dessa natureza devam servir como dever de casa...


E, no lugar das teorias e embalada por esses dois grandes pensadores, prefiro pensar e deixar a pensar sobre o que estamos a fazer do que é feito conosco, sobre as nossas relações e a grandiosidade delas ou não e as marcas que deixamos uns nos outros quando nos encontramos pelo caminho. Sobre dor, alegria, amor, felicidade, dificuldades, superação, riscos, juventude, envelhecimento e urgência ou não em se querer viver - e viver bem - o tempo que nos é disponibilizado.