segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

POR QUE?


“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música." (F.Nietzsche) - Imagem: Google Imagens





COMO CLARICE

Por Veruska Queiroz


Por que olho hoje a lua e ela parece-me mais cheia, apesar de não aparecer no céu?
Por que amanheci assim, azul e dourada?
Por que a noite é intensa?
Por que quero ficar?
Por que quero fugir?
Por que as palavras não saem?
Por que atropelo meus pensamentos?
Por que não sigo meu coração?
Por que não segues o seu?
Por que não vejo o que está a minha frente?
Por que vejo demais onde não há nada para ver?
Por que não me permitir?
Por que não considerar outras visões e posições?
Por que tenho medo?
O que me impede?
O que me impele?
Por que não vou?
Por que as pessoas amam?
Pelo que as pessoas amam?
Por que as pessoas odeiam?
Onde está a chave?
Onde está a saída?
Onde está a chegada?
Quem ganhou?
Quem perdeu?
Foram todos?
Não foi ninguém?
Por que os sentimentos precisam ser escondidos?
Por que quero saber mais, e tudo, e sempre?
Por que me atrevo?
Por que estou sempre adiantada?
Por que fico muda?
Por que as pessoas não são elas mesmas?
Por que sinto-me como um oceano?
Isso é bom?
Isso é ruim?
Onde estão as respostas?
Por que pergunto?
Por que não há compreensão?
Por que as pessoas precisam complicar?
Por que precisam barganhar tanto a própria vida?
Em troca de quê?
Uma homenagem póstuma?
Uma medalha de cidadão honorário?
Por que é tão difícil ser honesto com a própria alma?
Por que os muros não podem ser derrubados?
Por que os obstáculos não podem ser transpostos?
Por que eu não simplifico?
Por que eu me entrego?
Por que eu me derramo?
Por que vejo?
Por que vagueio?
Por que eu me devasto?
Por que não me escondo?
Por que sou verdadeira?
Não seria mais fácil não ser?
Por que estou aqui?
Por que não consigo estar nem aí?
Pelo que fala meu coração?
E se eu morrer amanhã?
O que realmente move as pessoas?
Pelo que elas sangram?
Pelo que elas morrem?
Pelo que elas vivem?
Tesouros palpáveis são ouro?
Ou ouro é a alma?
Talvez o silêncio? Ou o grito?
Por que me calo?
Por que espalho minhas tintas?
Por que me guardo?
Por que o nó?
Por que não o laço?
Por que não o abraço?
Por que o dedo em riste?
Por que não afrouxar as defesas?
Será indefeso?
Ou será desejo?
Por que a faca?
Por que a face?
Por que o disfarce?
Por que matar?
Por que morrer?
Não seria melhor (re)nascer?
Por que não se mover?
Por que cair e não levantar?
Por que levantar se tem medo de cair?
Por que viver se não sabe seguir?
Por que frio e sólido?
Por que não doce?
Por que a falta de coragem?
Por que ser forte?
Por que o vento?
Por que o norte?
Por que não o meio?
Por que me pergunta?
Por que não te respondes?
Por que não se acha?
Por que se esconde?
Por que é hoje?
Por que é domingo?
Por que sinto?
Pelo que vivo?
Por que vivo?
Por que?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

LIBAÇÃO (Elisa Lucinda)

É do nascedouro da vida a grandeza
É da sua natureza a fartura
a proliferação
os cromossomiais encontros,
os brotos os processos caules,
os processos sementes
os processos troncos,
os processos flores,
são suas mais finas dores.

As consequências cachos,
as consequências leite,
as consequências folhas,
as consequências frutos
são suas cores mais belas.

É da substância do átomo
ser partível produtivo ativo e gerador.
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza.

É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la,
cheio que é o seu princípio.

Todo vazio é grávido desse benevolente risco,
todo presente é guarnecido
do estado potencial de futuro.

Peço ao ano novo
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações:
nos livrem do infértil da ninharia
nos protejam da vaidade burra
da vaidade "minha" desumana sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar
nos amesquinha.

A vida não tem ensaios
mas tem novas chances.

Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores

Um brinde ao que está sempre em nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

UM COMEÇO...

"Propósito para o Ano Novo: gostaria que não festejássemos apenas os êxitos de nossas aspirações mais solitárias. E que conseguíssemos contar como lucros as mudanças que a convivência com os outros nos impõe. Feliz Ano Novo." (Contardo Calligaris, 2004) - Imagem: Flickr




UM NOVO ANO...
Por Veruska Queiroz


Milhões de novos projetos, novas idéias, novas esperanças e a vontade, força em ação sempre presente, diga-se de passagem, de escrever. Não sei se por hábito, dom ou pelos rumos que a vida vai tomando, mas, escrever está para minha alma e meu coração como água e luz para o corpo e neurônios para o cérebro. Aliás, escrever tornou-se minha segunda pele, meus pêlos e meus poros. Estou sempre escrevendo sobre alguma coisa e escrevo em um monte de lugares, a toda hora: nos rodapés dos livros, nas revistas que vou lendo, em bloquinhos de papel, guardanapos, no computador, "na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê" (Hyldon Souza, 1974), para amigos e até para desconhecidos.
Mas escrevo principalmente para mim mesma... Escrevo para acertar os ponteiros dos meus relógios internos; para elaborar partos, lutas, vitórias e lutos; para saber que vivo em algum lugar dentro de mim e para não esquecer que esse é o lugar onde deve sempre repousar meu cansaço e ser a base para todos os meus voos. Escrevo para gritar minha presença e esconder minha solidão ou vice-versa. Escrevo para falar de amor, para falar de mim, de tudo que me emociona ou me causa indignação e, principalmente, para lembrar sempre que "...cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é"(Caetano Veloso, Dom de Iludir).

Escrevo para estar de coração aberto, de alma lavada...
Escrevo...
Escrevo em silêncio...
Escrevo com os meus pensamentos...
Escrevo em voz alta.

Escrevo para aprender...
Escrevo para compreender...
Escrevo para errar e acertar, cair e levantar...
Escrevo para reaprender.

Escrevo para me conhecer...
Conhecer minha alma e minha calma, minha loucura e minha lucidez...
Escrevo para não deixar de lembrar e para esquecer...
Escrevo para amar, por amar, para viver.

Tenho uma idéia meio louca de ainda escrever livros. Quem sabe... Já plantei árvores, filhos tenho aos montes. Falta-me os livros. Escrevê-los... Sobre o quê? Não sei. Poderiam ser minhas impressões sobre o mundo, sobre o ser humano ou sobre a arte belíssima de viver. Poderiam ser sobre o amor. Poderiam ser sobre as minhas próprias experiências ou sobre minhas caquéticas certezas. Poderiam ser sobre Psicanálise, sobre Arte ou sobre nuvens, oceanos, girassóis e estrelas... Não sei realmente... mas sei que escrever está na minha alma, faz parte de tudo o que sou, de tudo o que conheço e reconheço, de tudo o que fui e de tudo o que serei. Para sempre. Mais sempre!!!

E, envolvida pelo início de uma das minhas muitas idéias loucas decidi organizar meu mundo das idéias e palavras: todos os meus textos, construções e divagações pessoais, todos os textos e fragmentos tirados dos livros que vou lendo sobre Psicanálise e Literatura, principalmente; resenhas e comentários sobre diversos assuntos, considerações sobre filmes e músicas e várias leituras feitas ao longo dos anos.
Nessa organização, todas as minhas impressões, minhas percepções e sensações, meus choros e risos, meus saberes e sabores, minhas cores, minhas flores, meu coração e minha alma encontraram um dos muitos pousos que lhes fizeram casa.

Por isso, sejam todos bem vindos a esse mundo dos sentimentos, dos pensamentos, das idéias e das palavras, meus e de muitos, meus e seus, meus e nossos... textos, fragmentos, frases, poemas, considerações e comentários meus e de muitas pessoas incríveis que também pensam e escrevem ou pensaram e escreveram sobre muitas coisas lindas e fascinantes por aí.